A Lenda do soldado Andrade

Corria o ano de 1988, na cidade de Manaus, mais precisamente no Bairro da Cidade Nova, em um local apelidado de Baixada Fluminense até hoje. 
Na época, o bairro da Cidade Nova havia sido fundado a uns seis anos atrás e a Baixada Fluminense era o único acesso para as ruas e casas, sendo uma ladeira comprida que ao redor era uma mata fechada e não existia transporte público no local, e para pegar o ônibus era necessário subir a ladeira que à noite, sem iluminação, era escura demais para voltar, descer do coletivo na via principal e descer ladeira abaixo.
O soldado Andrade havia se mudado a pouco tempo para o bairro, fazia esse trajeto diariamente, subia de dia e retornava tarde da noite do quartel. Era patrulheiro e estava em boa forma física, acostumado à vida dura de policial na linha de frente. Como morava sozinho e quase não parava em casa, não tinha muitos amigos e não procurava se informar dos acontecimentos do bairro no passado, e continuava fazendo seu trajeto de subir e descer a ladeira para trabalhar. Mal sabia que lhe estava sendo reservada uma trágica surpresa...
Andrade voltava tarde da noite e na ladeira escura percebeu que havia alguém lhe acompanhando, e como ali uma companhia seria bem vinda, ele diminuiu o passo e esperou o homem, que ao se aproximar, Andrade pode observar que teria uns 40 anos e trajava uma bermuda e camiseta regata. E o homem lhe perguntou se poderia acompanhá-lo; o soldado Andrade olhou para o homem e disse que sim, apesar de achar muito estranho aquela hora uma pessoa desconhecida aparecer do nada, pois niguém havia descido do ônibus com ele e ainda mais de bermuda e camiseta naquele frio! Como ele morava ali a pouco tempo, deu de ombros e desceu na companhia do homem. Andaram por mais quatro ruas. Ao se aproximar da quinta rua, o homem disse: "Amigo, vou ficar na esquina, é aqui que eu moro". O soldado Andrade se despediu do homem que se dirigiu para a casa da esquina, e ficou observando-o quando ele abriu o portão de ferro e entrou na casa. Como Andrade morava no final da baixada depois da décima rua, continuou sozinho seu caminho. Mas alguma coisa o incomodava.
Dois dias depois, quando o soldado Andrade voltava do serviço no mesmo horário, ao descer a ladeira sentiu um frio diferente e percebeu o mesmo homem vindo em sua direção pedindo para acompanhá-lo de novo! O soldado novamente aceitou a companhia e desceu a ladeira com o homem, e percebeu que o tal homem não tinha se apresentado a ele, e vestia a mesma roupa de dois dias atrás. Fez o mesmo percurso e o homem fez a mesma coisa ao se aproximar da esquina, e disse: "É aqui que eu moro". O soldado, desconfiado daquele homem, continuou seu percurso, e ao chegar em casa não conseguia dormir direito incomodado com alguma coisa que não sabia o que era.
Ao amanhecer, o soldado Andrade não aguentando aquilo que o incomodara na noite anterior, aproveitou sua folga e foi olhar na esquina em que o homem havia ficado nas noites anteriores, e ver se alguém o conhecia ou quem sabe até falar com ele. Quando o soldado chegou em frente à casa, percebeu que havia alguma coisa muito estranha, e verificou que estava fechada e que aparentava não ter ninguém morando ali a muito tempo. Começou a ficar nervoso com aquela situação e rapidamente procurou alguns moradores nas proximidades para saber com detalhes o que estava acontecendo ali e quem morava na casa da esquina.
Foi quando alguns moradores antigos contaram para ele sobre a casa da esquina e quem havia morado lá:
"Há mais ou menos um ano atrás morava um casal que aparentava ser muito feliz. Só aparentava! O tempo foi passando e as coisas aconteceram em um piscar de olhos... O marido descobriu que estava sendo traido pela esposa e não queria acreditar, tentou várias vezes tirar a própria vida, tomou água sanitária, comeu veneno de rato etc... Até que em uma noite, soube que sua mulher estava em uma casa noturna com seu amante e decidiu ir até o local, chegando lá constatou o inevitável: viu a mulher nos braços de outro homem e não aguentou. Saiu do local a pé e se dirigiu para o meio da avenida, abriu os braços e esperou o primeiro carro pegá-lo por trás, arremesando seu corpo a mais de vinte metros de distância, causando sua morte instantânea (suicídio).
Desde então a casa ficou vazia e ninguém da família fez mais nada lá. Muitos dizem que como ele se suicidou e não aceitou o que lhe aconteceu, ele continua aí dentro esperando a mulher voltar para casa".
Ao ficar sabendo de tudo que aconteceu ali, o soldado Andrade contou para todos o que tinha acontecido com ele nos últimos dias. Não falou mais nada e foi para casa. Passou o resto do dia trancado. Não falou com mais ninguém. Algumas pessoas próximas da casa dele disseram que ele passou a noite inteira sem dormir, com a luz acessa dentro de casa e que saiu para trabalhar muito cedo no outro dia.
Ao chegar a noite, por volta de 00:00 horas, os vizinhos disseram que viram o soldado Andrade chegando em casa e gritando:
"Ele veio comigo de novo! Ele veio comigo de novo!!!"
Logo depois ele entrou em casa, e foi ouvido um disparo! Os vizinhos entraram na casa do soldado e ele estava estirado no chão com um tiro na cabeça.
Algumas pessoas dizem que o soldado Andrade tirou a propria vida porque não aguentou a companhia do medo, assim como o homem da casa da esquina não aguentou a traição da esposa.

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